sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Elisa e o anjo


Oh Pai que me escutas agora! És o senhor da criação, a origem de toda a vida e quem seria seu senão seu servo e amado filho. Tenho em ti a imagem de minha ultima esperança para que tua misericórdia me poupe dessa dor novamente. Sabes que vivi milênios sob tuas normas e regras. Sempre olhar pelos humanos sem permitir que os lobos do inferno devorem suas almas. E eu não tenho sido o mais tenaz guardião? Não tem sido eu a sentinela frente os portões do abismo? Não fui um valoroso guerreiro na batalha contra lúcifer e seus decaídos? Sei que compreendes minha fidelidade, pois é a ti e somente a ti que eu adoro.

Foram tuas palavras mudariam minha existência. Nada mais natural que interviesse na vida de um de teus tantos filhos. A ordem simples, mas conhecendo meu coração, tu sabias que me resgataria do sereno na vigília. Lembro ainda do dia em que escutei tua voz. Eu pairava sobre os céus sentindo tua presença na beleza da criação quando falaste para mim como apenas tu podes.

- Salve-a minha criança! — Tu ordenaste — Sábio és tu que me atende Enriel, pois o destino de tua protegida é especial.

Escutei e abri minhas asas ao destino. Mandaste-me resgatar uma garotinha que brincava ainda de bonecas das mãos de um pobre humano, perdido e sem poder sobre sua própria alma. Ele tinha levado a um novo nível o significado de opressão demoníaca e via na garota uma ameaça a sua comunidade. Quantos erros podem os humanos cometer? Explica-me senhor? Como podes amar criaturas que acusam crianças de bruxaria e ameaçam purificá-la com fogo? Deixa-me lembrar quando foi que isso aconteceu. Acredito que fora no auge na idade das trevas quando a Santa Inquisição começara a sua santa cruzada contra as mulheres da terra.

Quando eles ascenderam o fogo que deveria queimá-la, eu abri minhas asas e mostrei todo meu esplendor aos que vieram assistir sua execução. “Desci dos céus para proteger essa inocente!” Minhas asas a protegeram do fogo o tempo necessário para tirar ela daquele palco de morte e loucura. Entreguei-a um mosteiro onde deveria ser criada e protegida. Para mim minha missão estava concluída e eu tinha com sucesso satisfeito tua vontade. Mais um milagre fora realizado em teu nome.


Completada como estava, mas tua vontade ainda não estava saciada:

— Enriel meu filho. Obedece teu pai que ordenas continuar tua missão. Cuida desta menina, pois o seu destino é santo.

Sabias que meu destino era amar a garota que devia proteger e ainda sim testaste minha alma apenas para que eu pudesse sentir na minha pele o fracasso. Como não iria me apaixonar? Elisa era a mais bela e pura entre todas as criaturas e nem os anjos poderiam contestar a essa verdade. Essa pureza fora conservada quando fora criada por homens santos.

O tempo quando se tem milênios passa em um piscar de olhos, e quando eu menos notei ela já possuía as formas de uma mulher e pela primeira vez em toda a minha existência eu desejei uma mulher. Mas ela se esqueceu do seu anjo. O anjo que ficou por perto para guardá-la. Anjo fraco e lascivo, não se conteve em sua luxúria que como um humano a ela se apresentou. Isso senhor, eu sei que cometi um pecado, um dos que não posso me dar o luxo de me arrepender, pois foi essa mentira que me permitiu viver todos aqueles momentos com Elisa. O pecado então se torna tão relativo. Será que sou condenável? Escondi minha verdadeira forma porque me apaixonei pela minha protegida e eu não poderia aceitar o fato que ela se esqueceu do dia em que a tirei da fogueira. Senti ciúmes, senti inveja, senti raiva e me senti um decaído.

Aos seus ouvidos Senhor eu devo parecer um traidor. Mais um Judas que cheio de boas intenções faltei com ti. Mas podes me culpar? Podes me culpar se foi tu me deste esse sentimento tão profundo? Mas senti uma dádiva tua , ó pai, então me entreguei.

Eu a cortejei da melhor maneira que uma mulher poderia ser cortejada, e não depois de muito tempo eu e Elisa éramos marido e mulher. Orei para que tu não olhasses para mim nesse dia. Enquanto o sacerdote abençoava clamando teu nome eu imaginava se seria possível. Seria possível que tu realmente abençoaste meu casamento com Elisa? Ou se tivesse pena de teu filho, pois em tua infinita sabedoria sabias que eu estava fadado ao sofrimento. Elisa não era um anjo, e como tal estava presa ao destino de definhar com o tempo e finalmente morrer.

O tempo passa ainda mais rápido quando se está feliz. Morávamos não muito longe do monastério onde ela fora criada, mas era um lugar realmente abençoado na criação. Uma casa pequena e um riacho, um cachorro e uma vaca, e finalmente apenas eu e Elisa. Nunca me atrevi a ter filhos e isso sempre a incomodou, mas acabou por usar todo aquele instinto maternal em mim. Eu a deixei acreditar que estava envelhecendo junto com ela, fui mudando minha aparência de acordo com o tempo, mas mesmo que eu pudesse a enganar, ela não poderia enganar a morte.


Oh anjo negro! Quando eu te vi se aproximando de minha amada notei em teus olhos fundos o sofrimento que tuas ações iriam me trazer. Eu implorei Oh pai. Eu pedi ao meu irmão que me desse mais tempo com ela. Eu necessitava mais tempo. Ele me concedeu contra tuas ordens naturais, e me deu mais dez anos com Eliza em troca de um favor. Antes de saber do que se tratava eu aceitei.

Eu tive meus dez anos com Eliza, mas a morte sempre coleta o que lhe pertence e finalmente ele a levou. Meu deus, eu não quero ter que passar por isso novamente. Temo por minha sanidade. Eu te amo com todas as minhas forças, mas naquele momento eu me senti abandonado. Foi então quando me vi obrigado a obedecer outro que não a ti senhor. A morte coletou seu favor e me ordenou criar a maior praga da história da humanidade. Ele sabia que eu possuía tal poder, um poder concedido por ti, que deveria derrubar asas de anjos decaídos em pleno vôo. Esse poder fora usado pela morte e em nome da morte. Criei uma doença e matei quase um terço do mundo.

Nada mais importava. Elisa tinha morrido e o mundo se tornara cinza. Nunca poderia esquecer a sua face sem vida. Então que o mundo se tornasse um inferno. Mas falaste comigo novamente. Poucas palavras foram suficientes. Tu apaziguaste minha alma e encheste de esperança os meus olhos. Renovaste minha fé e meu amor em ti.

—Enriel não desconta tua ira no homem. Salva meu povo que tua mulher voltará a viver novamente. Deves esperar por ela, que ela deverá nascer, pois o seu destino é especial.

Com essas palavras abençoaste meu amor por uma mortal, e isso para mim senhor foi toda a benção que eu necessitava. Lembro que chorei de remorso por décadas. Mas quando consegui erguer a cabeça perante meus pecados, contra a vontade da morte, eliminei a minha praga da face da terra e decidi que esperaria por Eliza.

Não mais do que cem anos depois de sua morte, eu vivia em Florença no auge de um movimento de artes e ciências. O homem ganhava pernas e a usava para se afastar de ti. Surgiram então ateus, homens que renunciaram ao pai como o unico salvador. A tua igreja era liderada por pecadores que não conheciam remorço nem a tua palavra. Eles causavam mais medo que admiração ao seu rebanho, pregavam o fogo do inferno ao invés do paraíso de tua presença. Esta era a imagem do mundo que eu vivia, pois esperava o prometido regresso, e nesse turbilhão de mudanças eu realmente a encontrei.

Ângela era seu novo nome, mas eu podia ver claramente sua essência. Ela vendia flores campestres na praça central com a mesma pureza na qual me apaixonei. Meu coração bateu forte. Cem anos haviam se passado para que eu pudesse falar com ela e finalmente lá estava ela, como se estivesse me esperando. Tive medo, sim Pai eu tive medo da sua rejeição. Será que em sua alma ainda havia a memória daqueles anos que viveu como minha esposa? Pior... Será que a mantiveste ao teu lado, ou a punisse por meus pecados? Meu Pai é um Deus de amor, mas também é justo.
Tive que ousar e implorei para que ela me permitisse pintar uma tela com sua imagem. Eu me tornaria um pintor e necessitava de uma musa, alguem para dar cor as minhas telas e injetar vida ao meu mundo. Se alguém conseguiria fazer isso era ela.

Cabelos loiros na tela, olhos de mel doces como o leite do paraíso. Era assim que eu a desenhava. Seus olhos puros e sem nenhuma malícia do que o mundo tendia a sujar. Eu estava pintando o meu eterno amor, e a minha sinceridade a alcançou o suficiente para o cupido lhe fazer uma visita. Estávamos apaixonados. O matrimonio foi apenas a conseqüência natural das noites que passamos juntos, mas dessa vez eu não senti vergonha em olhar para ti, eu sabia que tu abençoaste meu amor e o fizesse a colocando em meu caminho novamente.

Cada dia que passei ao seu lado eu agradeci a ti e pedia para que tua benevolência afastasse o anjo da morte, pois temia que meu perdendo meu amor novamente eu perdesse a sanidade juntamente com o coração em meu peito.

Então senti na pele a força do amor que uma mãe pode ter. Ela teria que ter um filho. Eu podia ver através dela que esse era um vazio que eu não poderia preencher. Mas temia as conseqüências de fecundá-la. Nunca antes houvera uma mistura de um anjo com uma humana, e provavelmente ela não sobreviveria a gravidez de um ser hibrido.

Então Gabriel me deu uma solução. Eu poderia satisfazer Ângela sem por em risco sua vida. Soube através de meu irmão que Nápoles tinha uma igreja, uma igreja afastada da cidade que necessitava de cuidados. Ali funcionaria um orfanato. Viveríamos lá como zeladores da igreja e do orfanato sob o serviço do Padre Gillhermo, um homem de bom coração.


Deus tu sabes o que faz, tu sabes o que é certo, tu sabes o que teus filhos precisam fazer para serem felizes. Tu enviaste Gabriel e por ele tomei a decisão mais acertada. Ângela tomou conta de centenas de crianças e a elas se entregou. Eu assisti enquanto sua alma crescia a cada dia se tornando algo que nunca se veria na terra, por isso a cada dia que passava eu estava mais apaixonado.

Ângela superara a bondade dos humanos e por isso a cidade de Nápoles a amou. Muitos homens e mulheres atravessavam longos distancias em busca de conselhos e voltavam ou satisfeitos ou irritados por não conseguirem o que vieram buscar.

Mas nosso amor era grande, grande demais para ficar nos olhares, e quando a noite caía e os casais se juntavam para dormir, nós fazíamos amor. Isso foi minha dor. Pobre de mim no dia que descobri que estava grávida.

Não permiti que ela descobrisse que isso me desagradava, eu não queria estragar sua felicidade, nem das crianças do orfanato que fizeram maior festa quando descobriram que Mãe Ângela estava grávida. Eles teriam um novo irmão.

Quando os nove meses se passaram o terror me acomete. Ao raiar do dia a morte se aproxima de mim com palavras suaves e trazendo apenas paz:

— Tua esposa terá um filho Enriel. Mas isso custará à vida dela.
As palavras da morte, não importam como sejam ditas, são duras e trazem em sim as lagrimas da perda de alguém amado. Eu não poderia aceitar perder Elisa novamente.
—Não aceito. Uso meu poder contra ti. Removo-te da existência se tocar um dedo em Elisa novamente. Nem que eu tinha que encarar novamente as legiões de lúcifer. Eu não vou perdê-la novamente.

Mas a morte ainda serena e complacente com minha dor falou naquela sua voz rouca:

— Te alegra irmão. O nome de tua esposa será consagrado entre os homens e os anjos. Teu filho fará grandes coisas e será tanto anjo quanto homem. Ele será seguido por milhares e tentará mudar o mundo. Para o que ele está destinado a fazer, tua dor não é nada. Desde quando o mais forte entre os anjos de Deus se tornou tão egoísta? Desde quando a tu és permitido negar a Deus o direito natural de se juntar a seus filhos?
— Mas eu a amo e não quero séculos sem Elisa.
— Se a amas de verdade, deves deixá-la seguir em frente. Não podes ir contra o destino escrito por Deus. Nem para ti, nem para ela. Não importa quão forte você seja. O que está escrito virá a se passar, os que vão contra essa regra encontram apenas dor.

Oh deus! A dor novamente que me acometeu. O que fazer? Será essa realmente tua vontade? Será esse realmente o destino que tu me preveniste. O destino santo de se sacrificar em pro da humanidade trazendo a terra um ser humano e celestial? Meu sangue!

— Que seja então. Imploro humildemente, porém que me permita vê-la outra vez, nem que seja após quinhentos anos.
— Todos os homens voltam a terra, até se tornarem anjos. O tempo eu não posso te dizer irmão, mas tenhas certeza que a verás novamente.

A morte neste dia estava com um rosto completamente mudado. Ela estava mudada. Não havia necessidade do mal que ela carregava, nem da face bruta de monstro. O homem se encarregara desse trabalho, ela apenas se tornou um meio de transporte de um mundo para o outro. Ela me disse que no dia que meu filho fosse nascer ele levaria Elisa novamente. Ele a levaria numa carruagem dourada, pois ela não merecia menos do que isso.

Sabes que eu a curti. Durante seus últimos dias nessa vida eu a curti como podia. Não permiti distrações e passei as duas ultimas semanas com a cabeça em seu colo recebendo um caloroso cafuné. Mas a morte tinha falado a verdade e ao sentir a primeira contração, eu me permiti cair em prantos. Ela assustada queria saber porque eu chorava tanto, nada pude fazer a não ser avisá-la que morreria naquele parto. Para minha surpresa ela já sabia. Disse-me que o que estava carregando não poderia ser uma criança comum e como tal requeria maiores sacrifícios. Pegou a minha mão e disse que estava tudo bem. Tudo acontece com a permissão de Deus, e que quando ela se fosse, eu deveria lembrar-me disso.

Como ela sabia disso? Eu não sei. Será que tu a visitaste em suas orações? Eu sei que ela mereceria escutar tua voz, mas como ter certeza? Será que Gabriel a visitou como mensageiro de tua vontade? Ele me diria. Avisaria-me que meu amor eterno já não era inocente em relação ao seu destino.

Na segunda contração luzes desceram do céu. Eram anjos que vieram ver o nascimento de meu filho. Ele nasceu sobre grande festa nos céus, e como fora prometido, a morte veio ceifar a alma de minha esposa em uma carruagem dourada.

Muitos homens vieram ver o porquê que as luzes caíam dos céus, porque elas levavam a igrejinha isolada da civilização. Viram os anjos e o meu filho sendo levado por eles. Viram Ângela sendo entrando na carruagem e homenageada como merecia. Pois nascia um anjo e um homem também. Seu nome foi escolhido por Miguel e ele o batizou de Mikael, filho do céu e da terra.
Eles fizeram o que são acostumados a fazer. “Santa, santa, santa!” Gritavam para o mundo dos cristãos e rapidamente minha esposa deixou de ser Ângela a se tornar Santa Ângela, a santa protetora das crianças abandonadas. E novamente como prometido à história fez questão de esquecer que Santa Ângela possuía um marido como eu.


Assim minha família foi tirada de mim. Sei que um anjo não deveria ter aspirações tão egoístas, não deveria pensar em mais nada do que maneiras de te servir, senhor. Mas novamente, por tua honra eu estava só. Dividido entre a felicidade de ter cumprido teu desejo e a dor de perder minha humanidade. Ela era a única linha que me prendia ao humano que poderia ser.
Perdoe-me pensar assim senhor, mas o mundo que tu criaste se tornou cruel e vil. Apenas viver nesse lugar se tornou uma penúria sem limite. Não conseguiria mais viver sem sentir na pele o calor de tua luz. Então, depois de muito tempo, abri minhas asas e voei de volta ao paraíso. Sabia que não me seria permitido encontrar com Elisa. Ela entre tantas almas humanas voltou a fazer parte do Deus que a amou durante sua vida.

O tempo curou as feridas que acumulei na Itália. E eu deixei de ser homem para ser um glorioso anjo novamente. Minha aura era como antes novamente, tomei meu lugar entre meus irmãos e fui recebido como herói. Lembrei de quem eu era. Lembrei de quem eu podia ser e de minha missão. Deveria guardar os portões do abismo e manter as almas inocentes longe das tentações dos seguidores de lúcifer. Por isso me deste todo meu poder de destruição. Eu era tua adaga, tua arma contra teu inimigo, o escudo de teus filhos, e não poderia falhar ou falar em egoísmo. Um ser como eu não deveria ter o luxo de amar, talvez tenha sido isso que tu tentaste me ensinar. Uma lição difícil de aprender, mas eu sou um anjo e não sou perfeito. Em troca disso me tornava mais poderoso e capaz de executar qualquer pedido seu. Eu rasgaria os céus! E deles derrubaria mil anjos! Se esse fosse teu desejo. Mas não era. Desejaste que eu a encontrasse novamente. Foi como uma lança em meu coração celestial. Eu temia que a encontrasse perdesse minha identidade novamente.

— Enriel mim Filho. Conheces meu amor e eu conheço o teu. Sabes que meus planos são absolutos e te levarão aos meus braços, pois todos os pais amam seus filhos, tu não és diferente. Guardar-te-ei entre os meus favoritos, em troca tu deves executar minha vontade na terra. Tu serás minha vontade encarnada. Minha ira e meu amor para com os meus filhos.
— Sim pai é a ti que eu me entrego. Meu corpo é tua arma. Faz de minha carne tua ferramenta para espalhar a bondade e a fé de teu filho.
— Olhas para o mundo agora Enriel. És capas de ver o homem faz. Mesmo eu tendo sacrificado meu próprio filho para lhes mostrar um caminho, eles ainda sim me traem. Nada diferente de seus ancestrais que levam a Eva e Adão.
—Ela faz guerra, meu senhor. Mata o semelhante e a terra com pólvora e metal. Usa o intelecto para o mal, se corrompe e usa as bênçãos que tu os presenteaste para disseminar a dor e os preceitos de teu inimigo. Enquanto eu guardei a terra segura das legiões o próprio homem se tornou um demônio. Mal em essência. A terra precisa de uma punição.
— Preciso que tu intervenhas filho. Preciso que tu vás ao lugar onde você quando humano perdeste tudo.
—Teu desejo se tornará uma realidade.
—Teus irmão foram enviados em outras partes do mundo, cada um com a promessa de não falhar e não espero nada diferente de ti. Salvas os que lá moram. Salvas as crianças e salvas o sacerdote. Eu tenho um plano para elas, e ainda não chegou a hora. O homem se aproxima carregando as armas da tecnologia e do ódio. Se nada fizeres eles sucumbirão. Isso não é de meu desejo, nem de meus planos. Não irás falhar. Foi por isso que te criei. És o mais poderoso dos anjos e o mais fiel. Serves novamente e te tornarás completo novamente.
— Deixa-me ser tua lança Pai, ao invés do teu escudo. Deixa-me mostra aos homens que tua ira é verdadeira. Deixa-me tornar os homens temerosos novamente. Porque não me envias a Alemanha, e me permite destruir o líder. A sua alma já está marcada ao inferno e os anjos do abismo estão roncando por Hitler e os seus.
— Tu ainda és um anjo tolo. Tu não sabes que se essa fosse minha vontade, minha vontade apenas seria o suficiente para destronar os nazistas da terra. Mas como todo pai eu ainda tenho no fundo a esperança que meus filhos voltem a mim. Como um exército de filhos pródigos.
— Me perdoa pai. Eu apenas queria te servir.
— Enriel por isso te envio. Pois irás lidar com meus filhos e por isso que tuas asas devem se tornar o escudo dos inocentes. Possuis uma alma pura calejada pela lembrança daqueles que se foram e entendes o que significa ser humano.


Eu entendi minha missão. Pensei que poderia se tornar mais complicada que rasgar os céus e derrubar anjos. Como pudeste pedir que eu me tornasse novamente humano? Lançando-me novamente naquele reino de insensatez. Eu naturalmente viria a perder minha mente e a pureza de minhas asas. Principalmente quando eu vi a nuvem que cobria a Europa naqueles dias. Podíamos sentir na pele a dor dos homens. Os filhos de deus que escolheram viver sobre seus mandamentos caíam um a um. “Deus morreu!” alguns gritavam. “Devemos Orar!” outros. Mas o importante é que ninguém tinha tempo para ti senhor. Eles deveriam correr para sobreviver, quem parasse um momento seria pego pela fúria nazista, faltava comida, faltava água, faltava dignidade, mas em uma igrejinha na Itália um grupo de crianças, um velho padre e uma garota ainda oravam verdadeiramente. Pediam por um milagre. E tu ouviste me enviando para eles.

Aproximei-me da igreja disfarçado de um jovem soldado. Pedi abrigo e comida como um teste de sua bondade. Eles e convidaram para entrar e foi quando eu a vi novamente. Eu estava me tornando humano. Minha fraqueza como anjo. A única que era capaz de matar o anjo que vivia em mim.
Elisa estava mais linda do que todas as encarnações. Suas mãos calejadas pelo trabalho duro, seu corpo fragilizado pela guerra, mas ainda sim ela era muito bela, belíssima. Novamente me apaixonei. E a corda que tinha se partido, voltara a existir. Voltei a sentir os sentimentos humanos que antes me neguei.

Ela ainda me reconheceu. Como soldado ela não me conhecia, mas sua alma me esperava. Depois e alguns dias ela olhou nos meus olhos e disse:

— Eu estava te esperando. Porque você demorou tanto.

Eu ainda não tinha aprendido minha lição. Tu me ensinaste com tanto afinco, mas eu sou imperfeito, sou um anjo e como tal irei com certeza cumprir a missão que me foi confiada, mas não resisti a me entregar novamente a Elisa.

Eu não ousaria machucar nenhum de teus filhos, mas precisava cumprir minha missão. Minhas asas cobriram a igreja impedindo os nazistas de verem o que realmente estava lá. Foi assim que eu solucionei o problema. Nenhum com coração negro seria capas de ver a igreja, nos mantendo seguros pelo tempo que fosse necessário.

A guerra passou, Hitler caiu, o regime caiu e nenhum mal aconteceu com os que estavam na igreja. Eles não passaram fome, nem frio enquanto eu estive lá. E novamente eu perdi para Angela. Ela carregava o nome de Elisangela. Um nome lindo que deixava claro seu lugar na terra. “Enviada pelos anjos era o que significava”.

Amo demais Elisangela e seu amor é meu remédio contra as magoas da vida então deus que me escuta agora. Sei que tu sabias tudo o que eu contei. Conheces meu passado e conheces meu futuro. Eu ainda tenho esperança de viver com Elisa na terra novamente, esse é o mínimo que eu poderia conseguir. Mas peço a ti que respeite a vontade deste filho que te serviu por milênios. Peço que olhe para mim enquanto oro, senhor. Pois eu sou um anjo e ainda sim tenho a necessidade de tua ajuda. Sabes que com um toque meu eu poderia tornar Elisa a vida, sabes que eu poderia recuperar sua juventude e viveria para sempre com ela. Mas essas não são suas regras: O homem deve viver, envelhecer e morrer. Sina cruel no qual todos estão fadados. Mas peço a te que esta vez me escuta. Atende o único desejo que eu te faço, depois de milênios te servindo.

Um anjo não pode criar outro anjo. Não possuo esse poder, mas Deus se você vê algum merecimento em nosso amor. Protege do tempo meu amor por Eliza. Pega sua alma e transforma em um anjo de luz, assim ela poderia viver para sempre com tua benção e eu seria o teu filho mais feliz.
Me escuta, oh pai, tens piedade de meu sofrimento. Sou eterno e vou carregar para sempre a dor de perder meu amor. Tenho a sina mais cruel. O homem morre e renasce sem as memorias que o torturam. Um anjo não tem esse privilégio. Devemos nos lembrar para não cometermos o mesmo erro. Sei que um anjo não deve possuir uma paixão e que nosso único significado de existir é servir a ti, pai, mas tem misericordia e me protege de um futuro que eu não possa suportar.


— Enriel... Enriel meu filho. Criança minha.
— Deus tu me respondeste?
— Tens em ti os meus ensinamentos, és o mais poderoso de todos os anjos e um grande lider entre teus irmãos. Te valorizo, pois tu és meu filho e meu por te é eterno. Sobre teus desejos eles estavam escritos e por isso eu irei .........................................

CABE A CADA UM DECIDIR QUAL A RESPOSTA QUE DEUS DARIA. EU TENHO FÉ EM DEUS E MEU DEUS É UM DEUS DE AMOR. COMO É O SEU DEUS? ESPERO QUE CADA UM QUE LEIA ESSE CONTO, O TERMINE PARA MIM. BASTA ALGUMAS PALAVRAS DE UMA ESCOLHA DE DEUS. SERÁ QUE ELE POUPARÁ ENRIEL DA DOR DE PERDER ELISA NOVAMENTE E A TRANSFORMARÁ EM UM ANJO? OU ELE DECIDIRÁ QUE ELA DEVE MORRER COMO TODOS OS HOMENS?

Esperando por você


Jonas corria desesperado entre os entulhos de infinitas construções destruídas. O céu noturno que outrora refletia a escuridão no coração dos homens estava vermelho em chamas de guerra. Recife queimava pela ira do Führer.

- Tem que dar tempo! Eu tenho que conseguir! - Ofegava, pois não tinha tempo de recuperar seu fôlego, a determinação que nasce do desespero trazia à tona toda a força que precisava para continuar correndo. - Não acredito que Alicia fez isso comigo.

Tropeçou nos destroços que falhou em ver, uma pequena falha, tentou se equilibrar em vão, mas o erro lhe rendeu um mergulho de um andar em um edifício que costumava ser uma repartição pública. Caiu feio, de mau jeito, sentiu suas forças criadas apenas pela adrenalina se esvaírem e de repente perdeu a consciência.

Quando acordou não sabia quanto tempo tinha perdido, mas parecia que havia perdido eras, o que era noite agora mostrava as primeiras luzes do sol e a morte da esperança de alcançar Alicia antes que ela entrasse ano transporte. Sentiu-se impotente, então Jonas chorou. Chorou como qualquer humano que tem direito de gritar por algo que não consegue sozinho. Esqueceu os sons dos tiros e dos canhões que perfuravam a alma de sua cidade amada. Esqueceu que estava, ainda, em meio a um campo de batalha.

- Arr!! Deus! Não falo com você há décadas, mas olha para mim agora. Permita que eu corrija meu erro.

Jonas sentiu uma presença se aproximando. O som de passos num terreno tão destruído é muito difícil de esconder. Tentou buscar a arma, mas o visitante era rápido e chutou a pistola que carregava no cinturão para longe.

- Hum... É raro ver alguém que viu tanta guerra, ainda acreditar em Deus. Mas ainda não decidi se essa demonstração de fé não se trata na verdade de desespero apenas.

A voz falava português e era muito familiar. Respirou fundo em alivio, não era o filho da puta de um nazista. Reconheceu seu colega de combate. Anos de experiência nessa guerra atroz desde que o Eixo fascista decidiu que o Brasil deveria cair.

- Daniel! Ajuda-me. Alicia pegou meus documentos e foi para a linha de frente em meu lugar!
- O que?! Como você deixou isso acontecer? Que tipo de marido você é? Pensei que ela estaria segura com você.


O silêncio foi uma resposta que Daniel não esperava. Quando Jonas pensou em falar algum tipo de artilharia explodiu por perto e o prédio onde estavam tremia como um terremoto. Sua estrutura não agüentaria mais muito tempo.

- Você não tem nada a dizer?
- Ela me prendeu na cama. Pegou meus papeis e se foi.

Daniel caminhava de um lado para o outro. Pensativo, pois claramente escolhia as palavras que falaria com cuidado.

- Eu sei Jonas. Eu a vi. Por isso vim te procurar. Saber o que aconteceu com você. Ela não se passou por você usando seus documentos, provavelmente os levou como lembrança, ela apenas entrou no quartel e pediu por uma arma, logo foi aceita no mesmo pelotão que você. - Mirou nos olhos do amigo as próximas palavras. - Eu a vi subindo no transporte a não muito tempo.

A raiva substituiu a tristeza e logo o soldado se recuperava da queda, não poderia correr, mas ao menos começou a se mover novamente em direção ao quartel. Se ela estava na linha de frente, ele também iria e, chegando lá, a protegeria de qualquer coisa. Daniel vendo o amigo se esforçar se posicionou para ajudar o colega a caminhar apoiando o ombro.
Depois de um tempo de caminhada Jonas deixou escapar sua revolta.

- Como o comandante se atreveu a aceitar ela? Minha mulher? Esta traição não ficará impune.
- Esses são tempos difíceis. Faz um tempo que o desespero tomou conta do alto escalão. Estão aceitando todos, crianças, mulheres, idosos. Qualquer um que consiga atirar uma arma.

Jonas notou algo. Virou-se para o companheiro e com força o segurou pela gola do uniforme. Jonas era forte e conhecido por tal. Daniel não reagia enquanto seu amigo gritava com o rosto próximo do seu.

- E você? O que você está fazendo aqui!?
- Calma, Jonas! Eu tenho uma missão diferente agora. Diferente de apenas fazer buracos nos inimigos. Um trabalho fora do exercito e bem complicado se você me permite dizer.

Jonas fez uma bela base nas pernas e juntou suas forças o suficiente para lançar o amigo na parede. Sua voz estava triste e buscava desesperadamente consolo.

- Ainda me soa como deserção. Não importa Daniel. Talvez se eu tivesse feito o mesmo eu não estivesse nessa situação.
- Garanto-te que eu não fugi. Nem pensei em fugir. Mas você quer minha ajuda ou não.


Jonas se apoiou numa pilastra, mas esta estava destruída, e logo cedeu levando o Soldado Junto. No chão ele virou-se para o amigo que caíra num local podre onde ratos faziam ninhos:

- Porque você não a levou com você? - Não olhava no olho companheiro. Esse era um assunto que o incomodava bastante. - Eu sei que você a amou também.
- Eu não poderia Jonas. Não era justo com ela. Ela não estava pensando em nada mais, além de você.
- Por causa disso você a deixa para a morte?

Mesmo desafiando a dor ele se moveu rapidamente surpreendendo Daniel que se preparava para se levantar e socou fortemente o ouvido direito que cambaleia e vai desmoronar novamente na podridão que se encontrava. Dessa vez sem o apoio do amigo, Jonas perde a forca das pernas e também cai.

Daniel se levanta ainda calmo, mas sua face esboçava a face de quem não tinha gostado da demonstração de força. Limpou-se rapidamente da podridão em que fora lançado, respirou fundo e finalmente ajuda o companheiro machucado a andar, mas se aproximou com cautela para não ser atacado novamente.

- Eu vim te buscar amigo. - A voz de Daniel estava diferente, era aconchegante e passava a impressão que nada podia atingi-lo, nem toda violência que Jonas poderia gerar. - Nós vamos buscá-la agora. Não é? Não é isso que você deseja? Por deus vocês dois são muito complicados.
- Você sabe onde ela esta Daniel?
- Você sabe também. Ela esta onde deveria estar. Onde você a deixou.
- Porque você não fala mais claro.
- Amigo, está na hora de se lembrar. Para ir buscar ela, você tem que se lembrar, ou não será capaz de vê-la. Tem que se lembrar o que aconteceu com você?
Depois de alguns instantes, pensativo, Jonas retornou confuso:
- Ajuda-me. Do que você esta falando? Algo me martela agora na cabeça, mas eu não sei dizer o que é.
- Como Alicia conseguiu prender um homem do seu tamanho na cama?
- Eu... Eu penso que estava dormindo.
- Era realmente dormindo que você estava?
- Daniel. Onde você quer levar? Diz logo! Eu não acredito em mais nada que você diz!
- Não era dormindo que você estava.

Lagrimas caíram do rosto de Jonas enquanto ele se lembrava da verdade. As poucas palavras com seu companheiro fizeram com que algo estalasse dentro dele e uma cachoeira de lembranças viessem a tona. Lembranças escondidas e trancafiadas por não conseguir lidar com a verdade. Ele fora a guerra, durante três anos defendeu o Recife dos Nazistas. Em meio ao calor de uma batalha, recebeu um ferimento que só o mataria horas depois, deitado em sua cama com Alicia em seu colo jurando amor eterno.

Ele lembrou que decidiu não descansar enquanto não ver Alicia segura daquele mundo insano onde o homem é o predador do homem. Ele não iria sem ela. Almas gêmeas são assim, ficam juntos até depois da morte.

- Daniel eu lembro. Lembrei de quase tudo. Mas e você companheiro? O que está fazendo aqui? Lembro de você vivo na ultima vez que te vi.
- Morri rápido e com consciência tranqüila. Fui o ultimo brasileiro a morrer na defesa de Olinda. Então não me chame novamente de desertor.
- Quando?
- Antes de você algumas semanas.

Jonas se lembrou que não sentia mais dor e que não possuía mais um corpo para quebrar, logo, recuperou suas forças e virou-se para o amigo. Ele parecia ansioso e assustado.

- Você disse que vamos buscá-la hoje? Ela morre hoje? Tão jovem?
- Sim e não. Hoje é o dia que ela parte para próxima vida, mas ela não esta mais tão jovem.
- Por deus homem do que você esta falando. Quando eu morri, ela tinha vinte e dois anos.
- Você precisa tomar conhecimento do tempo em que estamos. Assim saberás o tempo que passasse preso em tua própria consciência.

Jonas estava atento. Ele entendia plenamente o significado das palavras que Daniel falava. Uma sabedoria começou a invadi-lo no momento que ele se abriu a ela.

- A segunda guerra acabou Jonas. Alicia morre hoje de velhice. Ela tem quase noventa anos.
- O que eu estive fazendo todo esse tempo?
- Você procurou por ela nesse mundo que você mesmo criou. Por quase sessenta anos você correu, caiu, feriu-se, matou, morreu procurando por ela nessa batalha que é o retrato de suas memórias daquela época.

Eles pareciam em paz. O cenário de guerra foi paulatinamente sendo substituído por um quarto de hospital, onde uma senhora jazia deitada na cama e cercada de familiares e amigos. O ambiente era de dor. Uns mais fortes tentavam consolar os outros que choravam copiosamente. O tempo passou e ele escutou palavras bonitas sobre Alicia e sobre o modo que ela levou a vida. Menção sobre o amor de sua vida e sobre as batalhas, não apenas as armadas, mas as batalhas que uma mãe viúva tem que passar. Enfim chegou a hora que seu coração parou e os médicos desistiram de trazê-la de volta a vida.


Alicia pôde passar para o outro lado. Logo pode ver Jonas a esperando. Abandonou o aspecto da velhice recuperando a aparência que mais lhe agradava, a do tempo que viveu com Jonas. Daniel não se fazia presente, pois seu trabalho havia terminado.

Depois de se tocarem e abraçarem, Jonas ainda sem palavras na boca escutou o que sua esposa tinha a dizer.

- Eu sempre soube que você estava comigo - Ela o abraçou carinhosamente - Obrigado por me esperar.

Homem Nú

Acordei... Meu café da manhã estava no criado mudo, ainda quente. Eu tinha tudo, menos o que eu realmente queria. Ana me deixara essa manhã, como ela disse que o faria. Ainda bem para ela. Minhas lagrimas não foram feitas para apagar minhas brutalidades.

Ela deixou a janela aberta. Sinto o frio que o vento matinal carrega. Minha cabana, construída apenas para ela, já não está tão nova. Como nosso amor o tempo corroeu sua madeira matriz. Mas o tempo não poderia fazer toda essa desgraça sozinho, teve ajuda do meu temperamento irracional.

Quando construí nossa simples morada, minhas mãos ainda eram jovens. Lembro ter escolhido um lugar alto com uma bela vista, mas acabei obedecendo a seu desejo e fiz na beira de um riacho no cerne de uma floresta, que agora, vendo a primavera em seu auge, entendo sua escolha.

Devo me levantar. Essa cama não será tão confortável para sempre. Será a ultima vez que experimentarei a comida dela? Sem duvida essa parece ter sido muito bem preparada. Talvez... Talvez, apesar de toda a dor que lhe causei ela ainda me ame e lembre-se de nossa juventude.

Não... Basta! De nada adianta eu me enganar, não tenho razões para tal, afinal ainda possuo algum vigor! Quem essa mulher pensa que é me abandonando? Eu que a expulsei de minha casa! Vou apenas trocá-la. Deve existir outra mulher que queira um teto sobre a cabeça e um bruto na cama.

Devo parar com essa baboseira. Eu sei mais que nunca amarei outra mulher como Ana e que nenhuma dor parece sarar até poder beijá-la outra vez. Então está decidido. Ela te tudo para mim. Não sou homem suficiente para suportar a dor de sua perda sem amargurar. Não vou odiá-la por ter me deixado, mas vou encontrá-la e trarei de volta para mim o que importa.

Que som é esse? Alguém se aproxima. Eu conheço esse cheiro. Ana... Como o coração de um homem é tolo. Hoje, na primavera, ela iria buscar frutas silvestres. Ela nunca me deixou. Esse sentimento é ótimo, o de ter algo que estava perdido. Um alivio. Vou abraçá-la e beijá-la como agradecimento ao Deus que me deu a vida somando uma promessa que nunca mais Ana ira chorar pela minha causa.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sangue e Glória


Foi nas nevoas da cidade de Nova Britania que o bebê fora abandonado. Aos olhares dos homens uma criança que causava temor nos seus corações. Uzantar estava escrito na caixa e esse foi o nome dado a criança. No dia de seu nascimento foi o exato dia em que o bom Lord da terra morreu, por isso em seu rosto fora tatuado a marca do infortúnio.

Viver em sociedade marcado era complicado para o jovem Urzantar, causa de deixar-se levar pela simplicidade da natureza. Passava dias longe de qualquer contato, o que explicava a sua dificuldade de comunicação. Com seu machado tirou seu sustento, virou um forte lenhador, dos quais as mãos cheias de calos imploravam que ele escolhesse outro caminho.

O preconceito com suas marcas diminuía seus clientes então, pela fome, recorreu à caça, porém como os arredores foram devastados pela civilização humana, não havia espaço para a natureza. As viagens, a caça, se tornaram cada vez mais longas e muitas vezes sem sucesso. Passou fome, sede, cansaço sentindo o bafo da morte em sua porta muitas vezes, mas seguiu em frente, tinha essa garra em seu sangue. Recorreu ao furto muitas vezes, como qualquer miserável que sofria naquela época.

As toras de madeira se acumulavam em seu deposito, então ele descobriu uma maneira de utilizá-las da melhor forma para talvez ganhar algum ouro. O martelo e o serrote substituíram seu machado de lenhador, pois finalmente suas mãos calosas encontraram um novo propósito: De abatedor de arvores para carpinteiro.

Logo ele descobriu que levava jeito para o oficio então seguiu em frente desenvolvendo essa habilidade. Construiu peças simples, mas logo a complexidade fora completada com sua capacidade de talhar na madeira detalhes que agradavam os olhos dos nobres. Vendeu algumas peças a mercadores locais. Isso o satisfazia e tudo estava melhorando, mas em um dia tedioso outro renegado se apresentou a ele.

Era Grush-Nak, um bárbaro de força e coragem renomada entre os seus. Ele estava formando um exercito particular, uma força formada por renegados e qualquer outro homem ou mulher que não tinham nada a perder. Convidou Urzantar para participar, ele seria importante, pois sua fama de carpinteiro o precedia assim como sua força que ele ganhara nos anos como lenhador. Eles viajariam durante muito tempo atravessando as terras e os mares até que o exercito estivesse pronto para ser contratado como mercenários. Assim, fama e glória seriam suas metas finais. Quando o renegado usava tais palavras em público inspirava a todos e sonhavam com o dia da recompensa.

Vários dias passaram até que Urzantar pudesse decidir favoravelmente a proposta de Grush-nak. Como sua natureza comandava Urzantar possuía a capacidade de tirar os companheiros de muitas enrascadas, as maiorias eram emboscadas planejadas por aqueles que odiavam os renegados, em favor disso o líder acrescentou Kar em seu nome, que significaria o Pacífico. Nesse exercito ele seria Urzantar-Kar nele aprendeu a usar armas, armaduras, a combater se tornando um verdadeiro guerreiro, por fim toda aquela sua dificuldade de comunicação que antes possuía fora se dissipando como uma magia que perde sua força em frente ao seu senhor o tempo. Urzantar, o Pacifico. Repetia para si mesmo em momentos de meditação enquanto todos apoiavam sua ascensão no exercito.

Estiveram em Kull, Ellenora, Fangore outras cidades e nessas cidades juntaram companheiros que passaram a se considerar irmãos. Vingaram a morte dos assassinados tanto quanto brindaram o inicio de novas vidas para o grupo.

Em Kull seu primeiro contrato com sucesso. Deveriam defender um castelo que estava sobre cerco e assim o fizeram durante semanas, até que por uma idéia, de origem desconhecida, passaram a emboscar os recursos que eram trazidos para manter o cerco. Nada restou ao exercito inimigo a não ser a retirada.

Muitas outras vitórias se seguiram, como a guerra de Lhime ou o cerco a Falandar. Grush-Nak, então, se tornara arrogante e sua ideologia de igualdade, gloria, fama e segunda oportunidade fora, aos poucos, destruída por seus próprios vícios e fortuna.


Finalmente voltaram para Nova Britantia, onde um nobre enfurecido pela honra de sua filha os contratou para assassinar um poderoso homem. Deste dia fatídico Urzantar-kar aprendeu a não se meter em rixas de nobres.

O combate fora equilibrado, mas a derrota era inevitável. Os prisioneiros que podiam se mover, entre eles Urzantar, foram liberados depois de alguns meses dentro de uma masmorra, como forma de reconciliação entre os nobres.

Urzantar-Kar tentou montar novamente o grupo que lhe deu o que faltou em toda sua vida, o companheirismo. Voltou a viajar e pregar as idéias que o inspiraram conseguindo assim muitos companheiros. Assistiu muitos dos veteranos o abandonarem, tanto quanto treinou pessoalmente jovens esperançosos do futuro. Em fangore ouviu alguns sussurros de que Grush-nak poderia ter sobrevivido e encontrá-lo se tornou o objetivo de sua vida.

Morreu em um combate contra o exercito imperial de Fangore. Em sua ultima visão enquanto deixava seu corpo destruído cair viu o homem que tanto o inspirou retirando o elmo mostrando seu rosto ao moribundo, e sua verdadeira face, era Grush-Nak. Nak passou a significar: o traidor. Para seu povo Urzantar foi um herói e sua astucia e bondade inspirou os poderosos a proibir as marcas dos banidos.

Depois da morte de Urzantar ficou conhecido que a destruição do exercito pela primeira vez fora idéia de Grush-Nak. Ele havia recebido grandes porções de ouro para entregar seu exercito a nevoa da morte. Entregou informações cruciais sobre planos de batalha e outras inteligências que revelariam a necessidade de retaliação. Com esse ouro comprou terras e nobreza para si em um reino que julgava nunca ver novamente aqueles homens. Ao saber que Urzantar-Kar o procurava, temeu seu futuro e atacou covardemente de surpresa o acampamento onde estavam o Pacificador e seus companheiros.

Fama e glória, Grush-Nak reivindicou para si, mas em retorno perdeu sua gloria e ganhou a fama que merecia. Em todas as partes do reino gritavam pela cabeça do traidor, essas vozes viam dos amigos de Urzantar-Kar deixara para trás em sua busca incessante de Glória.

Grush-Nak, logo depois, morreu. Vítima de um dardo envenenado enquanto caçava com seus novos lacaios a origem foi desconhecida, porém ninguém se importou em investigar a morte de alguém como o traidor.

Traição I


Entre todas tu és a mais cruel
Logo eu que sempre tive fé em ti
Mesmo que o mundo me prevenisse
De tua alma suja

Arrependo de ter me deitado com ti inúmera vezes
Orei para que Deus te conservasse
Sem saber tua verdadeira face
Revelarias ainda tua traição

Quantos outros em minha cama deitaram
Consumiram de meu labor
Sentiram suas coxas macias
Ou viram minha foto na cabeceira?

Não tens o direito de ver minhas lagrimas
Encerro com você esse capítulo triste
Seguirei em frente em busca de alguém
Mas levo para sempre teu punhal

Henrique Nápoles
Blind Angel

Apocalipse


Deixa-me dizer o que eu vi essa noite
A cólera dos céus que caía sobre nós
As cores que desapareciam entre tons de vermelho e cinza
O mar de lagrimas que surgia entre os desaparecidos
E uma tristeza que reinou absoluta
Parecia que havia chegado à hora
A hora prometida
Mas nunca creditada
O homem passou a acreditar quando viu a natureza se voltando contra ele
Os céus cuspiram fogo nos povos
Os oceanos lambiam as cidades com ondas gigantescas
Furacões arrancavam os seus do chão e desapareciam para nunca mais serem encontrados
Homem encontrava com seu fim
Suas mãos foram inutilizadas
Tudo o que fora construído estava em pedaços
Tudo o que era vivo jazia agonizante
Era uma ira divina
Nada podia escapar da vedetta do criador
A mão que criara o mundo agora o destruía
O mundo se dividia
Cada um se voltou por sua própria vida
A espera de um salvador
Alguém para segurar os céus e os oceanos
Negociar com Deus uma extensão de prazo
Uma nova chance
Era tarde demais
O salvador é viera
Não foi escutado
O apocalipse já começara

Henrique Nápoles
Blind Angel

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Que o anjo me leve


Frustrante
Trabalho, trabalho assim ninguém sustenta
A própria origem causa a conseqüência
Uma mão que não alcança o fruto
Descanso, merecimento, dor, bruto

No fim as paredes vão pinta meu dia
Cria minha noite
Mas continua vazia
Desistência é retribuida com empenho
Puxo com força uma falsa esperança
Algo intangível e impossível
Que meus maiores medos se resumem ao inevitável

No mar despejo meus restos
Sobras mortais e importais entre orações
Tudo seria tão diferente se fosse diferente
Tudo seria tão igual se nada mudasse
Lógica que confundo os mais sábios
A repetição de um castigo infundável

Deito-me então no meu coxão feito de dor
Nada mudou desde então
Lagrimas lampejam meu rosto
Iluminando em mim minhas varias escolhas
Meus segredos se tornam pecados
Meus pecados se tornam evidencias
De um crime inexistente

Espero o fim que a morte promete
Que o anjo leve o que sobraria de mim
O que me resta é a outra vida
Na esperança de ser tudo diferente
Frustrante, Trabalho assim ninguém sustenta

Henrique Nápoles
Blind Angel

Descobrimento de um homem


Relaxado, usado, mutilado
Sinto-me inútil, pois falho
Escolhi meu caminho pelo caminho errado
Busco a sabedoria dos antigos
Mas meus mestres de mim renegam

Olho para o sol e não cego
Miro a luz por trás da luz
A escuridão tímida
Não temo
Vive em mim
Nasce em mim

Entro em lugares escuros
Busco aquela luz
Os mentores mensionaram sua importância
A mais bela luz floresceu nas trevas

Vejo meus dias acabarem
Relaxado, usado, mutilado
Mas vejo a sombra por trás da clarividência
Descobri todos os mistérios
Porque só agora floresci como indivíduo

Henrique Nápoles
Blind Angel

Notas para a deusa


Altas notas lançadas ao altar da divindade
O som que ultrapassa barreiras pára
Você ainda não escutou
Silencio se faz ao termino de cada linha

Uivo para o infinito desesperado
Sinto coração confuso e irritado
Aponto minha arma na direção errada
Tantas notas em vão

Somente a lua presencia minhas lagrimas
Testemunha de um destino indesejado
Pois quando o norte e o sul se unirem
Minhas notas serão ouvidas

Elevar-me ao infinito
Composto pela imensidão
Meu som segue no vácuo da mente
Em direção a minha deusa

Henrique Nápoles
Blind angel

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Minha lente Telescópio



Retiro meus olhos
Lanço para frente
Sinto o vento em meu rosto
Para ver o nojo
O Mesmo que meu passado enfrenta

Enxergo a lua
Longe ainda bela
Até que meu coração se cure
A esperança de um futuro sobrevive

As escolhas são feitas
Tanto quanto são vistas
Não encontro o perfeito
Pois nesse mundo de prazeres
Não existe a escolha certa

De acordo com a regra geral
Procuro a realidade ao bem puro
Ando com o povo para se sentir seguro
Vejo no povo a visão do mal


Henrique Nápoles
Blind Angel

Lençóis


Como eu deveria me sentir
Ao te ver meus olhos duvidam
Meu coração sente a lança
As pernas que me sustentam falham

Seus cabelos carregados pelo vento
O mesmo vento que destrói
Agora gentil em sua face
Como a ultima pétala da rosa

Hoje todos os lençóis que já deitei
Ficam para trás como um passado maldito
Ai de mim se não puder te sentir
Se não puder te assimilar

O meu caminho é longo
Estou errado
Muito que mudar
Estou muito errado
Não sou perfeito
Nem imagino o que é ser perfeito
Mas por ela
Não merece menos

Henrique Nápoles
Blind Angel

Alma do sonhador


Passantes entre corredores
Da memória de um sonhador
Onde sua arte se aproxima do exímio
Enquanto entro em suas idéias
Às vezes relevante ou irrelevante

Impertinente ao gênio do sonhador
A imagem de deus
Conjura a esperança numa idéia impossível
Que o sonhador tenha fé
Concretize nela seus sonhos
Relevante e irrelevante

Através dos olhos do sonhador abre-se a porta
Para o mundo
Para a alma
Para o todo
Tudo para alguém é nada
Nada para alguém é tudo
Tudo depende de alguém
Mesmo relevante ou irrelevante

Se parar de sonhar
Minha alma morre
A morte de meu espírito
Trás a desilusão
Meu estado do espírito
Para o mundo
Relevante ou irrelevante

Henrique Nápoles
Blind Angel

A Ilusão da Rosa

Ao teu corpo me delicio
Minha língua quer provar
Esse é o mal que me consome
Que eu luto com tanto afinco
Uma magoa frustrada
Pois ainda há esperança

Vejo-te em pedaços
Cada parte um sentimento diferente
Junto todos os teus mistérios
Os enigmas de uma mulher
A desculpa de um dia banal
A tara de ver uma rosa

Sorrisos e dentes se armam
Espera de minha resposta
Sublime fim do fato
Que se a ética me acorrenta
Só você possui a chave
Não se atreva a me libertar

Demais para mim
Ela ainda sim rir
Gargalhada de beleza e paixão
Demonstram sua superioridade
Já o meu gesto é comum
Isolo-me em desilusão


Henrique Nápoles


Blind Angel

Emboscada de Maça


Surpresa natural
Reconhecimento puro e obscuro
Entre tantos momentos eu quero um com você
Pois brilha a chama de minha tentação

Carne fraca balança ao vislumbre
Sangue fraco borbulha à mínima excitação
Resistir ao pecado se é impossível agora
Minha cabeça em um prato

Ilusão de tudo que se vê
Os momentos prévios do julgamento
Cor vermelha viva lembra você
Sinto-me fraco novamente

Enquanto outros passam vejo você
Estatua grega de perfeição
Irradiado pela ética
Decido vendar-me de você
Quem é o canalha agora?

Henrique Nápoles
Blind Angel

Um sol em você


Entre árvores e gramas
O sol corta suas folhas
Irradia-me assim
Os olhos que tanto vejo
Vejo com deferentes olhos

Assina uma tarde em minhas memórias
Deixa em mim sua marca
Arde quem puder te seguir
Estou a queimar
Por um alguém que ilumina

Minha boca treme ao descrever
Você se encaixa na cena
Purgando outros raios do lugar
Incendiando meus olhos apaixonados
Ainda sim te observo
Suporto a dor que me tortura

A água se atreve a refletir
Como eu
Uma maquina a registrar momentos
Momentos únicos e banais
Pois todos os momentos com você
São preciosos


Henrique Nápoles
Blind Angel

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Verdade


Fúria corrente em minhas veias
Arde em chamar
O apego ao fim
A infâmia do inicio
Minha verdade
Meu ego

Através do mar vejo pegadas
Vasto passado de paz
Cidadelas de mortos andam em minha direção
Um destino único
Minha verdade
Meu dever

Fim da encruzilhada
Unhas deverão devorar minha pele
Verei no espelho minha alma
Tão calma e ciente
O futuro não está em mim
Minha verdade
Minha maldição

Ações e Omissões
Deuses e mortais vivem sobre essa regra
Que se no mundo não puder queimar
Incinerado nele será
Minha verdade
Meu destino

Henrique Nápoles
Blind Angel

Asa negra suja de Carvão


Caminho em terras antigas
Rachadas e em ruínas
Onde temo voar

Nova ordem de paz em mim
Eleva meu espírito
Motivo pelo qual eu vim

Procuro então a podridão
Expor meu lado mortal ao mundo
Reflexos dos traumas de uma vida em cisão

Corroído e sem uma esperança
Aqueço-me na poça de meu sangue
A visão da conquista e matança

Meu corpo um santuário
Além dele apodreço
Cheiro pútrido de liberdade
Esta volta eu desconheço

Asas negras sujas de carvão
Cavam um novo caminho em minha alma
Dessa vez profundo e solitário
Em que apelo ao rosário

Henrique Nápoles
Blind Angel

Tenha Fé


O homem é fragil
Foi criado para sofrer
Perece com o tempo
E se multiplica rapidamente

Vortice de furia aparece em sua história
Acertam no cerne da questão
Se o homem realmente tem o que precisa
Será que ele possui o necessário

Mas o homem nasceu também com um trunfo
Ele possui a fé
Tem fé em si e em deus
Ganha força para atravessar as dificuldades

A fé que move montanhas
Conforta as dores e acalma o espirito
O fato impossivel de que existe alguem cuidando de nós
É preferivel ao vazio do universo

Feche os olhos então
Sinta em seu coração
Uma verdade incrível
Você também tem fé
Basta encontrar em si as bases
Afinal a fé nasce do coração
Nasce da necessidade
Nasce do crescimento de um amor incondicional
Nasce de um destino certo

Acreditas em mim?
Te digo que Deus existe
Tua capacidade de abstração é a prova
Teu olhar ao por do sol eh a prova
As provas estão espalhadas no mundo
Na criança que completa cinco anos
Na adolescente que tem o primeiro amor
Na insanidade de uma paixão eterna
Deus está em tudo
Você precisa da fé para encontra-lo
O que dirias a ele?


Blind Angel
Henrique Nápoles

Amor demanda poder


O que poderia ser?
Esse sentimento sereno
Comanda minhas ações
Estala na alma teu nome novamente

Estou preocupado
Meu eu foi engolido por outro alguém
Desaparecendo o maroto sedutor
Aparecendo o namorado para a vida

Todas as outras perderam o significado
Deixaram de existir
Nenhuma pode passar
Pela barreira que tu deixaste

Amaria você sobre todas as condições
O inferno seria criado sem você
O céu aparece com você
O combate entre a luz e as trevas é decidido nas sua presença

Então o amor dar poder
Tens o poder de me mudar
Usa e abusa porque me trás prazer
Nascente para usar teu poder em mim

Me ameaça com o sumiço de teu sorriso
Como poderia resistir a isso
Me castiga não me mostrando teu rosto
Como suportar

Tens todas as armas
Tens todo o tempo do mundo
Me usa e abusa
Eu aceito
Desde que seja você



Henrique Nápoles
Blind Angel

Amor perdido


Peito meu que me fere
Pára de bater em meu frágil coração
Destino fora cruel suficiente
Amargando na minha boca o gosto da perda

Zelo amigo que me faltou
Se transformou na saudade vermelha
Um monstro que se diverte destruindo
A antiga realidade de quando era completo

A perdi para a vida
Uma morte súbita e vil que sem sentir
Partiu a ultima corda que me prendia a sanidade
Me seguro ao que um dia fui

Seu túmulo não inspira sua beleza
Seus espírito já não se faz presente
Ela se foi
Levou consigo sua aura
Passou a viver em outro plano
Me deixou vivendo só

Simples a esperança
Que no momento que a morte me ceife
Seja levado as portas do paraíso
E por ela seja recebido
Assim eu recupero
Meu amor perdido

A flor


Eis que entre passos encontro um jardim
Bela criação construído entre luzes e essência da vida
Foi quando encontrei aquela flor
Estava só e perdida
Ela sabia onde estava mas ainda sim estava perdida
Sem entender o porque
Mas ela tinha raízes profundas
E precisava de um jardineiro para aparar seu passado

Me abaixei para melhor ver aquela flor
Possuía tantas pétalas quantos elogios que poderiam ser lançados
Cores vivas de rosa e amarelo
Mas com folhas e haste verde clorofila
Mas mudava de cor de acordo com meu humor
As vezes era tenra e me protegia de uma magoa
Outras forte e sábia
Mas uma cor sempre ficava
A mesma que eu a vi no dia tão banal
Em um jardim tão bonito
Entre todas as plantas do jardim a única que mantinha aquela cor
Era ela
Uma cor que mais parecia um sorriso
Lembro que me viciei aquela cor
Tornei-me seu jardineiro
A queria para mim

Minha mão não resistiu em tentar puxa-la do chão
Era isso que ela parecia querer
Mas ao segurar eu entendi que não poderia cometer tal pecado
Ela nunca poderia ser apenas minha
Caso fosse
Perderia toda a beleza que me atraiu em primeiro lugar
Uma flor tão bela deveria possuir lugar de destaque neste jardim de belezas

Um passarinho veio e me disse que ela poderia ser minha
Eu poderia tomá-la e a colocar em um jarro
Poderia conservar sua beleza
De maneira que fosse apenas minha
Passarinho livre não compreende a gaiola
Pois meu coração é puro e sensível
Não aceitaria eu maltratar tal bela flor
Ela poderia ser minha
Mas não a levaria em uma gaiola

Então a flor ficou no jardim
Mas diferente pois todos os dias eu vou vê-la
A rego com muito amor e a protejo das ervas maliciosas
Ela não mais se sente perdida
Que mesmo que eu seja apenas um jardineiro
Ela entendeu que seu lugar no mundo
Não é no jardim
Mas no jardineiro

Henrique Nápoles
Blind Angel

A janela


Ver o que queremos ver
Saber procurar o que deve ser achado
Olhos por trás do vidro distorcem a realidade
Estou por cima
Mas não vejo nada
Você não pode ser facilmente encontrada
Não agora
Não ainda

Compreendo que daqui eu deveria ver tudo
Ver as onda do mar
Um casal de mãos dadas entre juras de amor
Uma nova nuvem que aparece no horizonte
As gotas do orvalho matinal
Ou passantes nas ruas de pedras
Mas não vejo você
Justamente a quem eu procuro

Meus olhos cansados querem parar
Estão em constante movimento
Procurei toda minha vida um amor que pudesse descansar
Que ao bater meus olhos nos olhos dela
Visse em seu sorriso
A paz que procurava

Mas ficou diferente no dia que te vi
Da janela do meu quarto
O prisma de beleza que ficou marcado no vidro
A memoria simples que naquele dia era você
Porque não?

Seria sincero se eu te contasse um segredo
A minha janela parece com o destino
Me mostra o que espera o futuro
A janela fechada sempre fora muito cruel
O mistério do desconhecido
Mas quando se abriu me mostrou você
Decidi não lutar contra o destino
Me alegrou abraça-lo
Deus me guardou a você

Então o vento que trás seu cheiro
Preenche meu quarto e me lança ao sono
O único lugar que eu tenho certeza
Que quando eu dormir
Irei sonhar
Sonhar com o destino meu
Minha mulher por várias vidas
Nos meus sonhos tem apenas espaço para você
Pois sem você
Ela seria apenas um vazio.

Henrique Nápoles
Blind Angel

Sinais de uma Saudade


Hoje me preparei para dormir meio triste
Fui escovar os dentes que entre todas as escovas
Apenas uma estava coberta com uma capinha
Era a sua escova
Botei a mão no peito
Meu crucifixo não estava lá
Lembrei que estava com você
Espero que esteja usando ele
Recife sem você ficou mais triste
Amanheceu e não te encontrou caiu em lágrimas
Choveu a manhã toda
Mostra que a cidade já te elegeu como sua princesa
E minha rainha
Meu peito ficou pequenino agora
Antes ele explodia por um sorriso
Agora se espreme e luta por espaço
Engraçado essa história de estar apaixonado
A paixão pode ser tão boa
Mas as vezes tão cruel
Rastejo por você
Mesmo que você me levante
Eu continuarei rastejando
Pois é de joelhos que tratamos uma divindade
Você é minha Afrodite
O amor encarnado
Está combinado então
Quanto voltar você não viaja sem mim
E eu não viajo sem você
Não quero passar por essa barra novamente
Sua escova tem que estar acompanhada de você
Para que com você do meu lado eu tenha a tranquilidade invejada pelos justos
O justo de um homem completo
Completo pois nunca mais ficarei só
Assim como eu posso trabalhar amanhã?
Como eu posso produzir ideias?
Você é a origem de todas elas
A musa absoluta que nunca me deixa na mão
Minha carinhosa enfermeira
Meu destino inevitável
Feita para mim
Meu amor


Henrique Nápoles
Blind Angel

A Musica


Estão esta tudo combinado
Eu canto e você escuta
Uma canção simples e de bela melodia
Uma canção que vai te pintar uma nova forma de amar

Ela começa com a constatação de um elogio
Um elogio banal e usado por tantos amantes
Mas o timbre de minha voz faz tão especial
“Você esta linda essa manhã”

Com o desenrrolar da musica a melodia amadurece
Ela muda
Fica triste, alegre e até irritada
Ela pede por atenção
Cheia de mimo quer o teu colo
Porque uma canção como a nossa merece mais do que um ouvido puro
Merece um coração puro

Então te escolhi
Meio que sem querer
Era tu que deverias escutar minha voz enquanto canto
Porque o som que corta o ar alcança os corações
Eu canto porque tenho como alvo você
Seu coração que deve ser meu

As cordas vibram simplismente
A cada nota uma nova sensação
Um dia eu te explico o porque
Que você poe a mão no peito quando eu canto
Um dia eu te ensino a vibrar também
Vibrar na minha melodia
Como uma corda
Serás meu instrumento então
E contigo eu montarei as mais belas peças
Tudo porque um dia você combinou me escutar

Estão escuta
Por tras de tudo uma canção que não para
Trás para você a mensagem deste poema
Aquele que o fez tinha uma missão
De fazer a musica que te alcançaria
Onde quer que você estejas

Entre todas as notas que formam a melodia
Poderia tudo ser simplificado
Em um
EU TE AMO

Henrique Nápoles